sábado, 26 de julho de 2008

Vão

Entre tu e eu havia o vazio,
O vazio perpétuo.
Eramos dois seres distantes pelas entranhas amargas do não sentimento,
Distantes pela vastidão do nada.

Por entre o nosso tempo,
Por entre o que em nós não existiu,
Restou somente nós,
Dois corpos em um breve instante.

A quando da descoberta assustadora do nosso vazio,
Da nossa verdade,
Cobriu, o longo manto da desilusão
A nossa fria solidão.

Agora, o que há entre nós,
É o abismo da Verdade nua,
A ilusão despedaçada,
A realidade crua.

A carrasca Verdade prevaleceu,
Matou Morfeu,
E, como obra prima
Traçou nosso destino.

Uniu-nos pela mesma dor,
Para todo o sempre,
Eternamente.

E nós
Agora conscientes,
Fomos condenados por viver o vazio,
Por não ver,
Por apenas ser.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Tejo

Alucinação...

Os estridentes e sibilantes gritos metálicos dos carris davam calor a uma carruagem mergulhada no silêncio ensurdecedor de si mesma. Jeremias, jovem universitário e eterno decifrador do enigma da vida, encontrava-se como em todas as manhãs a bordo de uma carruagem de metro, a caminho da sua Universidade. Sentado num dos bancos do meio, com os headphones nos ouvidos, ia sussurrando uma melodia irreconhecível e orquestrava o ritmo com as mãos sobre os joelhos. Jeremias odiava o metro, ou o «cemitério de gente» como gostava de lhe chamar, observava a massa impessoal e disforme de pessoas sem sorriso, sem voz e sem calor e odiava-as por isso.
Há já muito que observava a castradora rotina dos passageiros fortuitos, sim... ele conhecia bem os rostos sem luz, os olhares inseguros e desesperados, o pesado silêncio que queima e revela a mentira que todos sabem de cor. Jeremias não compreendia a mórbida rotina que os tornava dormentes, nem a necessidade que tinham de se refugiar, apavorados de si mesmos, no silêncio, no olhar cabisbaixo e no rosto fechado, petrificado como se de alguma penitência se tratasse. Ah ! ... Como odiava tudo aquilo, como tudo lhe cheirava a pôdre e a falso (!) , e quando observava aquela massa compacta e maquinalmente ordenada a percorrer as galerias subterrâneas sobre uma esteira rolante de metal, inevitavelmente percorria-lhe pela mente a imagem de um qualquer matadouro onde os animais são conduzidos à morte, ordeira e pacientemente aguardando a sua vez…

(Continuação...)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

No Palácio

Sinto,
E sou.
O sentimento aflora...
Arrepio-me.

E dou um trago...
O café sabe bem,
E sereno fico...
Sincero.

A leve brisa do inverno tropical
Trespassa a carcaça real,
Adentra o conflito
E traz a paz.

E sou paz,
Neste momento sou todo,
Sou tudo,
Universo-me.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Pérolas...

Aqui fica um cheirinho da magnífica prestação dos Fanfare Cioccarlia, "a banda de metais mais rápida do mundo" no S. Jorge em Lisboa. Memorável ! Se todos os ciganos fossem assim...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ser

Ser preenche o vazio,
Completa a lacuna;
Concreto da coluna,
Sol do estio.

É a luz do dia,
As sombras da noite,
O amor da Maria,
O corte da foice.

É a paixão esperada,
O suspiro da amada,
A água da chuva,
O oposto do Nada.