domingo, 22 de março de 2009

O Reino do Rei

Certa vez, em um distante Reino, em remotos tempos, uma conspiração fora tramada contra o Rei do Reino.

Num dia em que o calor era tão sufocante quanto é uma corda no pescoço de um condenado no dia do seu estrangulamento, dissera, dissimuladamente ao Monarca, em conversa particular, um de seus mais leais assessores, que a população do Reino encontrava-se incipientemente revoltosa por conta de seus (in) comuns mandos e desmandos e, que incandescido, este sofrido povo que assistia a todos estes desvarios de consciência real às claras vias, em plena luz do dia, não toleraria mais nenhum outro decreto lunático que afectasse o viver.

Afirmou, o até então leal lacaio, não informado por um não informante que, caso houvesse mais uma absurda ordem por parte de Vossa Realeza, toda a população boicotaria seus afazeres diários, levando assim o Reino à total ruptura.

O Rei, ao saber da maliciosa notícia, viveu em fúria aquele momento; ao avesso, com os olhos bem vermelhos e bastante esbugalhados, esbravejava loucamente, socava fortemente a grande e central mesa de carvalho e uivava de raiva, rogava pragas a tudo e ainda jurava de sangue todos seus inimigos. Babava ódio, e quase sem se notar, segurava com tamanha força o pescoço de seu até então leal servidor, que este ser, que naquela hora estava apenas semi-vivo, começava a parecer-se com uma típica beterraba roxa, oriunda do norte europeu.

O Rei do Reino, não admitia, melhor, não concebia a ideia de traição por parte dos seus, aqueles a quem ele dedicara toda uma vida de árduo labor monárquico, mesmo que por vezes lhe faltasse a tal lucidez de um grande monarca - sabia disso - mas para o Rei, essa traição era a maior traição que se podia receber! Era como a traição de um amor, era um desamor.

Dissera esta frase aos mais altos berros, do lado de fora de seus aposentos, na sua varanda real, para todos os que quisessem ouvir e para todos os que não quisessem...

O até então leal lacaio, naquele exacto momento regojizava-se, mesquinha e privadamente de sua vil astúcia, pois tinha feito o Rei do Reino crer absolutamente que seus súbditos o trairiam ao tempo de seu primeiro contestável decreto, levando assim o Reino ao caos.

(Continua)



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